Participantes
Guilherme Werneck – Epidemiologista; professor adjunto do Departamento de Epidemiologia do IMS/UERJ e do Instituto de Estudos de Saúde Coletiva – IESC da UFRJ. Douglas Lucena – Prefeito de Bananeiras – PB
José Carlos Breda – Prefeito de Cotiporã – RS
Vídeo
- Publicado em 07/04/2020
Em mais um Webinar promovido pela plataforma CoronaCidades, o médico e epidemiologista Guilherme Werneck conversou com os prefeitos Douglas Lucena, de Bananeiras, na Paraíba, e José Carlos Breda, de Cotiporã, no Rio Grande do Sul, sobre os desafios e alternativas dos municípios brasileiros de médio e pequeno portes no combate ao coronavírus.
Confira alguns pontos abordados no debate e assista à íntegra da conversa no vídeo ao lado.
Pequenos municípios também precisam agir
O coronavírus começou a se espalhar no Brasil a partir das grandes cidades e muitas medidas de combate ao problema consideram apenas a realidade dessas metrópoles. Mas é preciso pensar em alternativas para os municípios com número menor de habitantes.
Prefeito de Bananeiras, cidade do interior da Paraíba, Douglas Lucena destacou a importância da adoção de medidas de combate ao coronavírus pelos municípios menores, mesmo quando ainda não existem casos confirmados.
“Como a nossa estrutura de saúde é menor, nossa capacidade de resposta também é. Não ter caso (ainda confirmado) não pode ser um conforto, pois com 5 ou 10 casos, já estaremos sobrecarregados”, alertou o prefeito, que responde por um município com pouco mais de 20 mil habitantes.
No Webinar, ele destacou a necessidade que os municípios sigam as recomendações da Organização Mundial de Saúde e do Ministério da Saúde. “É a saída para esses municípios não entrarem em colapso”, ressaltou.
O epidemiologista Guilherme Werneck afirmou que não existe solução única para o Brasil e que, neste momento, é necessário pecar pela cautela. Ele acredita que existe uma janela de oportunidade para esses municípios menores agirem e diminuírem as possibilidades de propagação do vírus. “O momento que esses municípios estão vivendo é como se fosse (a situação de) São Paulo há um mês e meio. Iniciativas (tomadas agora) podem oferecer resposta boa para a epidemia”, acredita.
As diferenças entre contenção, mitigação e lockdown
Em todo o mundo, as cidades estão adotando diferentes medidas para combater a propagação do coronavírus. No webinar promovido pela plataforma CoronaCidades, o epidemiologista Guilherme Werneck explicou quais são as fases de combate à epidemia e que tipo de medidas são mais adequadas para cada momento.
O especialista destacou que o problema, também no caso dos pequenos municípios do Brasil, é a dificuldade de dispor de testes que possibilitem identificar se o vírus já começou a circular na cidade.
Confira as fases:
Contenção – quando ainda não há presença do agente infeccioso circulando naquela comunidade. As ações de contenção objetivam identificar qualquer agente externo que possa trazer o vírus para a comunidade e isolá-lo para impedir a transmissão comunitária. “É testar quem está chegando e isolar quem deu positivo”, resumiu Werneck.
Mitigação – quando a fase de contenção torna-se insuficiente e o vírus já circula na comunidade, é hora de iniciar a mitigação. Nesta fase, o objetivo é diminuir as possibilidades de transmissão, reduzindo oportunidades de contato entre as pessoas. Na mitigação há fechamento de escolas, a proibição de aglomerações, entre outras medidas. É o que já acontece em muitas cidades do país.
Supressão ou lockdown: é o fechamento de tudo o que não seja serviço essencial, evitando ao máximo o contato entre os habitantes.
Segundo Werneck, faltam aos pequenos municípios brasileiros indicadores claros de qual fase estão vivenciando, o que seria fundamental para a definição das melhores atitudes a adotar.
Na falta de testes, a possibilidade de usar inquérito sorológico
O fundamento do controle de uma epidemia é a testagem. Mas, em todo o Brasil, faltam testes que permitam diagnosticar a presença do coronavírus. Diante deste cenário, o epidemiologista Guilherme Werneck propõe uma alternativa, com a utilização de inquéritos sorológicos.
“Esses testes sorológicos detectam a presença do anticorpo no indivíduo que foi infectado, mesmo sem apresentar sintoma. A realização desse exame não serve para identificar quem ainda está com o vírus e está transmitindo, mas serve para ter ideia de como anda a circulação do vírus na sua comunidade”, explicou Werneck.
Os testes sorológicos são mais simples e rápidos de fazer, com uma gota de sangue já é possível realizá-los, o que pode ser uma alternativa mais acessível para pequenos municípios que desejam entender como avança a transmissão do coronavírus entre os seus habitantes.
União dos municípios favorece combate ao vírus
Prefeito de Cotiporã, cidade com pouco mais de 4 mil habitantes, José Carlos Breda ressaltou o trabalho conjunto realizado entre alguns municípios do Rio Grande do Sul no enfrentamento à pandemia. “Nós, como um consórcio de 16 municípios, estamos comprando testes rápidos para começar a avaliar melhor a situação da população”, explicou.
Na Estado da Paraíba, Douglas Lucena destacou que 13 municípios se uniram na adoção de medidas conjuntas de combate ao coronavírus. Segundo o prefeito de Bananeiras, o combate ao vírus é uma necessidade coletiva. “Quanto mais interlocução, mais força os municípios vão ter para fazer esse enfrentamento”, resumiu.
Como contribuição para a discussão, a médica e pesquisadora Camila Maciel Oliveira compartilhou a realidade de Minas Gerais, onde um grupo de municípios atuou coletivamente para enfrentar a epidemia. Em uma área turística, que atrai muitos romeiros, o esforço foi para reduzir a circulação intermunicipal de pessoas. “Essa microrregião do sul de Minas, conseguiu limitar o trânsito de pessoas entre as cidades”, contou a médica, que está engajada no enfrentamento ao coronavírus no pequeno município de Baependi.
Assista ao vídeo do Webinar e confira a conversa na íntegra.