Níveis de Alerta
Indicadores sobre Covid-19 no contexto brasileiro

Qual é a capacidade de resposta do sistema de saúde?
Qual meu nível de alerta?
Como o sistema está testando e adotando políticas de controle à doença?
A Metodologia Níveis de Alerta propõe que o gestor use indicadores-chave para responder a essas e outras perguntas, definindo seu nível de alerta correspondente, para direcionar esforços de resposta à Covid-19 em estados e municípios.
É preciso medir para agir
Diante da crise da Covid-19, uma análise inteligente de indicadores é capaz de revelar a gestoras e gestores públicos se o caminho adotado está dando resultados ou se é necessário corrigir rumos. Foi desse ponto de partida que a plataforma CoronaCidades desenvolveu esta metodologia para orientar estados e municípios na resposta ao coronavírus.
Qual o meu nível de alerta?
Como está a situação da doença no território?
Qual é a capacidade de resposta do sistema hospitalar?
Como o sistema está testando e adotando políticas de controle à doença?
Propomos que essas e outras perguntas sejam respondidas comparando indicadores-chave a valores de referência.
Munidos da resposta para essas perguntas, gestoras e gestores públicos podem definir seu Nível de Alerta, tanto no âmbito municipal quanto estadual, e construir políticas mais adequadas para a situação da Covid-19 na sua localidade.
Nesta ferramenta, oferecemos uma lista com sugestões de indicadores-chave organizados em um painel, onde trazemos valores de referência coletados em pesquisas, análises de dados e do contexto local. Com base nessas informações, é possível definir o nível de alerta do estado ou município.
Outros indicadores listados apoiam a interpretação dos indicadores-chave, justamente para facilitar a identificação de possíveis gargalos, onde é necessário intervir para melhorar na resposta à Covid-19 e progredir para níveis de alerta mais baixos.
Por exemplo: suponhamos que uma cidade tem uma taxa alta de mortalidade e uma taxa de ocupação de leitos de UTI baixa. Porém, o tempo de espera para internação em tratamento intensivo está muito alto. Esse indicador não irá aumentar o nível de alerta da cidade, mas pode acender uma luz vermelha para o gestor investigar como está o processo de Regulação. Os resultados dessa intervenção, espera-se, estarão refletidos nos indicadores-chave no próximo ciclo de avaliação.

Vamos olhar juntos?
Após a escolha de indicadores adequados para a situação dos dados local – lembrando, não é necessário usar todos para classificar seu nível de alerta, porém sugerimos ter ao menos um por dimensão -, o gestor deve fazer a comparação do seu atual estado com os valores de referência. Para definir os Níveis de Alerta, sugerimos que o nível seja determinado a partir do mais alto entre os indicadores que compõem o painel.
No painel a seguir, apresentamos um exemplo de lista de indicadores-chave e seus valores. Nesse exemplo, o nível de alerta é o de risco máximo dado que a incidência de novos casos e a taxa de ocupação estão altos. Agora, o gestor pode analisar indicadores de acompanhamento para adaptar sua resposta à crise de acordo e comunicar à população as decisões tomadas.
Recomenda-se rever o nível a cada duas semanas para garantir uma comunicação adequada e o engajamento com as medidas, bem como permitir tempo suficiente para que mudanças de políticas tenham efeito e sejam refletidas nos números.

Entenda os indicadores
A crise da Covid-19 é uma situação complexa e gestoras e gestores públicos encontram diferentes desafios em cada contexto. Contemplando essas nuances, criamos essa lista de indicadores abaixo, que podem ser selecionados pelo gestor de acordo com a confiabilidade dos dados a sua disposição.
Nosso objetivo é que, usados em conjunto, esses indicadores tragam um retrato da situação atual e da possibilidade de piora do quadro, para que gestores sejam capazes de reagir e implementar ações adequadas. Ou seja, um indicador sozinho não basta, é preciso relacioná-los.
Cada indicador foi construído em resposta a uma pergunta, que são ponto de partida para planejar e executar ações, passo fundamental na resposta à Covid-19. Os indicadores apresentam suas limitações, muitas vezes derivadas de falta de padronização no preenchimento das informações no sistemas de registro ou de atrasos para obtenção de um dado.
Outros indicadores, por sua vez, medem políticas ainda não executadas pelo poder público, como é o caso do monitoramento e rastreamento de contatos. É possível, portanto, que a medição exata tenha que ser adaptada, desde que continue a traduzir a lógica proposta por trás do indicador. Buscamos antecipar algumas dessas limitações, e elas estão registradas na tabela que acompanha a lista de indicadores.
Quando possível, recomenda-se que os indicadores sejam avaliados considerando recortes demográficos (idade, raça, grupos vulneráveis por comorbidades, grávidas e puérperas, dentre outros), e territoriais (bairros/CEP e município de residência do caso confirmado, não da confirmação do caso). Esses recortes são especialmente relevantes para direcionar políticas públicas de resposta à Covid-19.
Os indicadores estão divididos em três dimensões:
- Situação da doença, que busca medir como a doença está se espalhando no território e se existe risco de ressurgência. Os casos, as hospitalizações e as mortes contam a história de como a doença evolui no território.
- Controle da doença, que retratam a capacidade do poder público de detectar os casos por meio de testagem e de quebrar cadeias de transmissão por meio do rastreamento de contatos , prevenindo novos surtos da doença.
- Capacidade de resposta do sistema de saúde, que refletem a situação do sistema de saúde como um todo, englobando a estrutura hospitalar, os trabalhadores da saúde e o atendimento dos demais serviços à população.
Clique na pergunta e confira como cada indicador pode contribuir com sua resposta ao coronavírus
1. Situação da doença
Este conjunto de indicadores traduz como está a disseminação da doença no território analisado. Alguns indicadores dependem de testes – como o número de casos registrados – ou refletem estágios mais avançados da doença – como internações e óbitos -, mas também incluímos indicadores de estágios iniciais, para criar um balanço temporal.
Indicador: Novos Casos Ativos de Covid-19
Possível indicador chave!
Ações relacionadas:
- Intensificar orientação ao isolamento de pessoas com suspeita de Covid e reduzir contato da população;
- Intensificar ações de concientização social para distanciamento social, utilização de máscara em espaço público, e demais medidas profiláticas;
- A depender do estágio da curva, intensificar medidas de rastreamento e monitoramento de contatos.
Observações e limitações:
- Sujeito a limites e atrasos de testagem (ver “Exames realizados por dia” e “Tempo médio de exames”);
- Sujeito a limites na busca por atenção básica ou tratamento (realizar testagem em massa e estruturar unidade de rastreamento e monitoramento. Ver “Subnotificação”);
- Carece de informação sobre aglomeração de pessoas por recorte territorial (ver “Densidade populacional”).
Indicador
O número de novos casos ativos de Covid-19 registrados por dia traduz a presença da doença na sociedade.
Ele será diferente do número de casos reportados por dia: por ser obrigatório notificar todos os resultados de testes de Covid-19 no Brasil, o número de novos casos geral contabiliza tanto aqueles confirmados por análise de carga viral quanto por exames de anticorpos. Porém, nestes últimos casos, raramente é possível identificar o momento exato em que a pessoa esteve doente. Por isso, sugerimos contar apenas casos ativos – ou seja, casos confirmados com exame PCR, de maneira a refletir um retrato mais fiel do momento.
Além disso, como ele depende da capacidade de testagem, que pode seguir rotinas diferentes entre finais de semana e dias úteis, sugerimos sua medição em média-móvel dos últimos sete dias. Recomendamos que seja analisado em conjunto com dados relativos à testagem.
Indicador: Número de novos óbitos por dia
Possível indicador chave!
Possíveis fontes de dados:
SIVEP Gripe
Ações relacionadas:
- Intensificar orientação ao isolamento de pessoas com suspeita de Covid e reduzir contato da população;
- Intensificar ações de concientização social para distanciamento social, utilização de máscara em espaço público, e demais medidas profiláticas;
- A depender do estágio da curva, intensificar medidas de rastreamento e monitoramento de contatos.
Observações e limitações:
O indicador não reflete o que está acontecendo hoje, uma vez que pode demorar até 28 dias entre o início de sintomas de Covid e a notificação de mortes. Engloba apenas dados de pacientes hospitalizados e que foram testados
Indicador :
O número de novos óbitos registrados de Covid-19 por dia é um indicador que depende da capacidade de testagem, assim como número de novos casos por dia. Além de refletir naturalmente, portanto, momento posterior de evolução da doença – perdendo o caráter de previsão, como acontece na Síndrome Gripal -, o indicador de óbitos registrados é ainda sensível à burocracias de registros de falecimentos. Também é necessário ter atenção à padronização nas práticas de reporte de óbito por Covid-19. Devem ser contabilizados apenas aqueles casos onde essa é identificada como causa e o caso foi confirmado com teste PCR.
Como vemos, esse indicador traz uma série de limitações. Porém, na ausência de informações consistentes sobre casos e hospitalizações, as mortes podem ser um indicador mais confiável do ônus da doença em uma população. Em decorrência desta diferença temporal e dos possíveis atrasos de notificação, analisar esse indicador em conjunto com os demais é crucial.
Indicador: Novos Casos de Síndrome Gripal
Possível indicador chave!
Ações relacionadas:
- Intensificar orientação ao isolamento de pessoas com suspeita de Covid e reduzir contato da população;
- Intensificar ações de concientização social para distanciamento social, utilização de máscara em espaço público, e demais medidas profiláticas;
- A depender do estágio da curva, intensificar medidas de rastreamento e monitoramento de contatos.
Observações e limitações:
- Sujeito a limites e atrasos de testagem (ver “Exames realizados por dia” e “Tempo médio de exames”);
- Sujeito a limites na busca por atenção básica ou tratamento (realizar testagem em massa e estruturar unidade de rastreamento e monitoramento. Ver “Subnotificação”);
- Carece de informação sobre aglomeração de pessoas por recorte territorial (ver “Densidade populacional”).
Indicador:
Antes de casos de Covid-19 serem confirmados por exame, as pessoas que buscam atendimento, porém ainda sem sintomas graves, são registradas como casos de Síndrome Gripal. O número de novos casos reportados pode, portanto, servir como sistema de alerta precoce para detectar aumentos potencialmente atribuíveis à Covid-19, independente do nível de testagem.
Por esse indicador depender muito de comportamento, indicamos a possibilidade de usar como valor de referência os números de reporte de síndromes gripais de anos anteriores. Sugerimos, por isso, que o recorte seja feito por semana epidemiológica. Caso seja feita a opção pela comparação, torna-se um indicador aproximado, feito por estimativa.
Indicador: Novos Casos de SRAG
Possível indicador chave!
Possíveis fontes de dados:
eSUS-VE, SIVEP Gripe
Ações relacionadas:
- Intensificar orientação ao isolamento de pessoas com suspeita de Covid e reduzir contato da população;
- Intensificar ações de concientização social para distanciamento social, utilização de máscara em espaço público, e demais medidas profiláticas;
- A depender do estágio da curva, intensificar medidas de rastreamento e monitoramento de contatos.
Observações e limitações:
Sujeito ao preenchimento efetivo de Síndromes Respiratórias Aguda Grave nos anos anteriores
Indicador:
Assim como a Síndrome Gripal, números de novos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) não dependem da capacidade de testagem. Assim, a comparação com dados históricos reportados pode sinalizar que há um aumento no número de casos que podem ser de Covid-19. É um número que reflete, porém, momento posterior de evolução da doença, por registrar apenas casos que se agravam. A notificação histórica de SRAG, entretanto, é mais consistente que a de síndrome gripal. Além disso, o agravamento do caso tende a levar pessoas a buscarem apoio médico de modo mais consistente que o estágio de Síndrome Gripal.
Na comparação histórica, entretanto, é necessário se atentar para perfis demográficos distintos correlacionados ao agravamento da Covid-19, diferentes dos de Influenzas ou outros agentes. Por exemplo, o número de crianças com casos graves de coronavírus é notadamente inferior, a base de comparação de anos anteriores deve ser balanceada de acordo.
Indicador: Tendência de indicadores-chave da situação da doença
Possível indicador chave!
Ações relacionadas:
- Intensificar orientação ao isolamento de pessoas com suspeita de Covid e reduzir contato da população;
- Intensificar ações de concientização social para distanciamento social, utilização de máscara em espaço público, e demais medidas profiláticas;
- A depender do estágio da curva, intensificar medidas de rastreamento e monitoramento de contatos.
Observações e limitações:
- Sujeito a limites e atrasos de testagem (ver “Exames realizados por dia” e “Tempo médio de exames”)
- Sujeito a limites na busca por atenção básica ou tratamento (realizar testagem em massa e estruturar unidade de rastreamento e monitoramento. Ver “Subnotificação”)
- Carece de informação sobre aglomeração de pessoas por recorte territorial (ver “Densidade populacional”)
Indicador:
A interpretação de todos os indicadores de situação da doença deve considerar tanto o número total da prevalência de casos quanto sua tendência ao longo do período de referência. Para este exercício, sugerimos reportar a direção de mudança no indicador e há quantos dias essa variação é sustentada. Em geral, indicamos uma postura conservadora: uma piora sustentada por 5 dias já deve indicar a necessidade de ser mais restritivo em suas medidas, enquanto uma melhora dos números precisa manter-se por 14 dias para ser considerado seguro afrouxar medidas.
2. Controle da doença
Enquanto não existir um tratamento ou vacina para Covid-19, ações de rastreamento de contatos, monitoramento de casos suspeitos e de testagem serão essenciais para controlar a propagação da doença, quebrando cadeias de transmissão da doença e prevenindo novos surtos. Essas intervenções são o cerne da gestão da crise e seu resultado deve ser acompanhado de perto. Estratégias de controle da doença bem sucedidos levarão à redução de indicadores da doença, conduzindo a sociedade à situação de um “novo normal”.
Rastreamento de contato
O rastreamento de pessoas potencialmente expostas a um caso confirmado de Covid-19 e a correta orientação, principalmente de pessoas com sintomas, a tomar precauções necessárias para evitar transmitir ainda mais a doença é uma estratégia essencial para conter a incidência nas cidades e estados brasileiros.
Ainda são raras as experiências de boas práticas no país de registro, processamento e monitoramento de casos expostos e suspeitos. Por isso, não incluímos esses indicadores como potenciais indicadores-chave.
Indicador: Casos Confirmados Advindos de Contatos Monitorados (%)
Possível indicador chave!
Ações relacionadas:
- O percentual alto de casos confirmados advindos de contatos monitorados sinaliza a capacidade de quebrar cadeias de transmissões. Para melhorar o indicador, deve estruturar melhor processo de rastreamento e monitoramento de contatos.
Observações e limitações:
Pode não haver núcleo de rastreamento/monitoramento estruturado
Indicador:
Ao contabilizar quantos dos novos casos confirmados já eram de conhecimento – seja por rastreamento, seja pela pessoa ter buscado um serviço de monitoramento, por exemplo -, esse indicador informa a capacidade do sistema de saúde de atuar ativamente para buscar potenciais novos casos de pessoas infectadas, orientá-las de maneira adequada, isolando casos suspeitos, por exemplo. Ele reflete, portanto, a capacidade da gestão de atuar preventivamente, evitando que o contágio se alastre. Em níveis de alerta mais altos, é possível que limitações de recursos levem ao direcionamento de estratégias de rastreamento e monitoramento para populações específicas, o que se refletirá nesse percentual. Para esses casos, é possível observar recortes como novas internações, por exemplo.
Casos Rastreados (%)
Ações relacionadas:
- Intensificar a comunicação com contatos registrados.
- Avaliar o uso de tecnologias com SMS e Whatsapp para acelerar o contato.
Observações e limitações:
- Verificar metodologia e capacidade técnica do município/Estado.
- Rastreados significa contatados e notificados.
Indicador:
Indicador de performance do encaminhamento de casos suspeitos coletados em consulta com caso suspeito ou confirmado de Covid-19. Como este é um indicador de processo ainda não disseminado no Brasil, não sugerimos que seja usado como indicador para classificar níveis de alerta. Porém, indicamos que o valor de referência alvo é de 100% – ainda que em momentos mais agudos da pandemia possa haver uma atuação mais restrita da política de rastreamento de contatos, ficando circunscrita, por exemplo, a locais que concentram pessoas com comorbidades.
Tempo entre registro e rastreamento de caso suspeito de Covid-19
Referência:
Vital
Possíveis fontes de dados:
Estrutura local/SMS?
Ações relacionadas:
- Fortalecer a equipe de rastreamento;
- Estruturar protocolos, redimensionar a equipe, priorizar casos mais graves caso a equipe esteja operando em total capacidade.
Observações e limitações:
Verificar metodologia e capacidade técnica do município/Estado
Indicador:
O indicador acompanha a capacidade e efetividade do rastreamento por parte dos sistemas de saúde pelo tempo entre o registro e o contato efetivo com o cidadão. Quanto menor este tempo, melhor e mais efetivo é o controle da doença, ao direcionar o potencial contaminado a tomar as precauções necessárias o quanto antes.
Para que este indicador seja construído, é necessário criar um sistema de registro das etapas do rastreamento onde as datas e horários de cada etapa possam ser inseridos. Caso esta etapa seja de difícil implementação, uma alternativa é o indicador percentual de contatos registrados que tenham sido rastreados em até 24h.
Indicador: Contatos registrados por caso
Referência:
Vital
Possíveis fontes de dados:
Estrutura local/SMS?
Ações relacionadas:
- Fortalecer a equipe de rastreamento;
- Intensificar a comunicação e apoio aos infectados contatados e seus contatos;
- Alocar recursos para oferecer testes aos contatos dos casos confirmados.
Observações e limitações:
Verificar metodologia e capacidade técnica do município/Estado
Indicador:
O indicador mostra, na média, o número de contatos com os quais um caso confirmado teve contato nos últimos dias, ou seja, o número médio de pessoas expostas por caso confirmado. Quanto maior este número, menos em controle está a doença. Porém, sua interpretação é difícil: um número alto pode indicar tanto que há alguma dificuldade de adesão a restrições de circulação, porém, também pode ser fruto de uma alta concentração de pessoas em uma única residência. Por outro lado, valores baixos podem indicar que as entrevistas não estão sendo conduzidas adequadamente, portanto deflacionando artificialmente os números.

Indicador: Número Efetivo de Reprodução (Rt)
Possíveis fontes de dados:
Farol Covid
Ações relacionadas:
- Adaptar protocolos de rastreamento de contatos e monitoramento de casos suspeitos de acordo com o nível de alerta;
- Dimensionar equipamentos de saúde, adaptando a capacidade de resposta à possível demanda por cuidados hospitalares;
- Adaptar ações para diminuir contatos na sociedade, como fechamento de espaços públicos, e comunicar a necessidade de evitar aglomerações;
- Editar decretos e orientar a população a adotar comportamentos que diminuam o contágio, como o uso de máscaras e outras medidas profiláticas.
Observações e limitações:
- Esse indicador é uma estimativa e, portanto, herda limitações de todos os indicadores sobre o qual se baseia;
- Por se basear em dados originais reportados – ainda que depois corrigido com estimativas de subnotificação – sofre igualmente de demoras para atualização;
- O cálculo em locais com pouco número de casos ou quando se começam a ter dias sem registro de casos é limitação compartilhada de vários modelos.
Indicador:
O Rt representa a média de novos casos infectados por um único paciente. Um Rt maior do que 1 significa que, na média, um paciente transmite a doença para mais de 1 pessoa, fazendo com que a tendência seja de crescimento do número de pessoas infectadas. O oposto ocorre quando o Rt está abaixo de 1: a doença rescinde.
Porém, é muito difícil calcular diretamente este número e recorre-se, portanto, a estimativas. Ele apresenta, portanto, margens de erro, e herda as dificuldades de reporte de todos os dados originais utilizados, bem como dos parâmetros utilizados para o cálculo. Portanto, sugerimos que ele seja utilizado como indicador de acompanhamento.
Testagem
A testagem é essencial para confirmar os casos e isolar de forma rápida os pacientes, quebrando a cadeia de transmissão. A partir de um caso confirmado, gestores públicos de saúde podem monitorar o paciente, registrar e notificar contatos, estimar a demanda por atendimento e prever a dispersão da doença em sua região. Os indicadores de testagem são também importantes para auxiliar na interpretação dos dados de casos e óbitos, tanto para entender a variação dos números quanto a temporalidade, ou seja, o atraso médio entre o momento em que as pessoas ficaram doentes e o momento em que os casos são confirmados.
Indicador: Tempo médio para obtenção dos resultados dos exames (PCR)
Possível indicador chave!
Ações relacionadas:
- Avaliar compras de novos testes, rever protocolos de testagem
Observações e limitações:
- Município pode não ter testes.
- Deve ser acompanhado da avaliação de outros parâmetros de testagem
Indicador:
Esse indicador mede a confiança que tenho em números que dependem do resultado de testagem, como casos e óbitos confirmados por dia. Por exemplo, se tenho uma atraso superior a 14 dias em média no resultado de exames, passo a ter quadro onde os casos confirmados, em sua maioria, já se encontram recuperados. Tempos muito longos nos fazem, portanto, não ter segurança sobre os números de situação da doença, em especial aqueles que dependem da confirmação de casos para serem calculados.
Indicador: Exames realizados por dia (PCR)
Referência:
Possíveis fontes de dados:
GAL, Sistema de Informação de Insumos Estratégicos (SIES), SES?
Ações relacionadas:
- Tornar processo de testagem mais eficiente. Atenção: deve ser acompanhado da avaliação de outros parâmetros de testagem.
Observações e limitações:
Município pode não ter testes.
Indicador:
A quantidade de exames realizadas por dia mede a capacidade de testagem do poder público. Sugerimos que sejam contabilizados apenas exames PCR para esse cálculo pois eles são os exames que confirmam casos quando eles ainda estão ativos, levando a uma melhor orientação sobre isolamento e controle para evitar a propagação de novos casos.
Indicador: Exames (PCR) positivos (%)
Possível indicador chave!
Ações relacionadas:
- Alocar recursos para ampliar o acesso aos testes;
- Intensificar a comunicação com a população para que ela procure ajuda médica quando necessário;
- Intensificar ações de conscientização social para distanciamento social, utilização de máscara em espaço público, e demais medidas profiláticas.
- Ampliar o público a ser testado, incluindo casos suspeitos não sintomáticos
Observações e limitações:
Estimando-se uma média de 5 dias entre a coleta da amostra e o resultado do RT-PCR, deve-se ser mais cauteloso com a queda do valor e mais conservador com seu aumento. Ver “Tempo médio de exames”
Indicador:
O percentual de exames com resultado positivo revela se a testagem está sendo direcionada apenas à confirmação de casos suspeitos ou se ela tem sido feita de modo mais amplo, como parte de uma estratégia de identificação de casos. Quando existem recursos para tanto, deve-se testar o mais amplamente possível a população, de maneira a captar o maior número possível de casos ativos e orientá-los a evitar a disseminação. Essa taxa também depende da disposição de pessoas a realizarem o teste. Esse indicador deve permanecer baixo, entretanto, deve ser ajustado pelo tipo de teste utilizado e a quantidade esperada de falsos positivos e pela prevalência esperada na população em um dado momento.
Indicador: Taxa de subnotificação
Possíveis fontes de dados:
Ações relacionadas:
Observações e limitações:
Indicador:
A taxa de subnotificação é calculada considerando a relação entre os casos e óbitos confirmados, assumindo uma taxa de letalidade padrão, baseada na literatura especializada. Além de ser uma estimativa, outra fragilidade da taxa de subnotificação é o atraso nas informações de óbitos e a subnotificação que ocorre nos mesmos. Tentamos diminuir essa lacuna utilizando uma taxa de letalidade de situações compatíveis com a brasileira. A taxa de letalidade base utilizada também pode ser ponderada por grupo demográfico, quando estes dados estiverem disponíveis.
3. Sistema de saúde
Pacientes com Covid-19 exigem muito do sistema de saúde, que precisa estar preparado para atender principalmente aos casos mais graves. Além da disponibilidade de equipamentos, o cuidado com os profissionais de saúde também é essencial para garantir essa capacidade de respostas. Além disso, é preciso continuar os demais serviços do sistema.
Sistema hospitalar
A pessoa infectada com Covid-19, ao desenvolver sintomas graves, em geral precisa de apoio hospitalar, principalmente diante da falta de tratamento definitivo. Os indicadores a seguir traduzem se o sistema hospitalar tem capacidade para cuidar desses pacientes.
Indicador: Taxa de letalidade
Possível indicador chave!
Ações relacionadas:
- Monitorar a situação dos centros de saúde e verificar se a alta letalidade é decorrente da falta de capacidade do sistema hospitalar;
- Diminuir a subnotificação de casos, a alta letalidade pode refletir um número baixo de casos confirmados
Observações e limitações:
- Sujeito a limites e atrasos de testagem (ver “Exames realizados por dia” e “Tempo médio de exames”)
- Sujeito a limites na busca por atenção básica ou tratamento (realizar testagem em massa e estruturar unidade de rastreamento e monitoramento. Ver “Excesso de mortes domiciliares”)
Indicador:
A taxa de letalidade nos informa se conseguimos dar apoio adequado, mesmo na ausência de tratamento definitivo, à recuperação de pessoas afetadas pela doença. Porém, esse número depende da capacidade de testagem: números altos podem indicar que estamos testando apenas casos mais graves, mais propensos a falecer, por exemplo. Ele também deve ser interpretado levando em conta perfil de vulnerabilidade da população. O valor de referência indicado deve ser atualizado conforme avançar o conhecimento científico sobre a Covid-19.
Indicador: Ocupação de leitos de UTI-Covid ativos (%)
Possível indicador chave!
Ações relacionadas:
- Aumentar a oferta de leitos de UTI-Covid
Observações e limitações:
- Caso a localidade não possua leitos de UTI designados especificamente para Covid-19 deve-se considerar leitos totais de UTI (especialmente difícil para localidades com poucos leitos de UTI).
- Os valores de referência devem considerar a capacidade do Estado ou município de mobilizar e disponibilizar leitos. Entes federativos que conseguem mobilizar de forma rápida os leitos trabalhar com valores de referência menos restritivos.
- Tipicamente usa-se como recorte de alerta alto o limiar de 90%, mas como o tempo médio de internação dos pacientes Covid-19 em UTI é maior que a média das internaçõs em UTI, faz sentido ser mais cauteloso neste limiar.
- Atentar para estoques de ventiladores/respiradores, EPI, profissionais e medicamentos (especialmente sedativos) para que o funcionamento das internações UTI ocorra sem ressalvas
Indicador:
A demanda de pacientes com Covid-19 por tratamento intensivo gerou pressão sobre sistemas hospitalares em todo o mundo. Esse indicador visa proteger esse sistema contra aumentos além da capacidade de resposta: o acompanhamento de perto dessa taxa de ocupação de leitos de UTI-Covid é, portanto, crucial para evitar o colapso da capacidade de cuidado. É importante ressaltar que apenas leitos de UTI-Covid ativos, equipados e com pessoal adequado para atenção à disposição, devem ser contabilizados.
Para municípios que não tem leitos de UTI, sugerimos acompanhar esse número a nível da regional de saúde.
Indicador: Novos casos de internação em UTI (%)
Ações relacionadas:
- Referenciar ou estruturar protocolos de referenciamento.
- Reforçar atenção a pacientes em leitos de enfermaria.
Observações e limitações:
Indicador:
Esse indicador traduz como está a evolução de casos para sintomas graves e críticos e permite avaliar como será a pressão sobre o sistema hospitalar no futuro dada a incidência de casos no momento presente. Dessa maneira, pode-se avaliar se o sistema terá condições de suportar essa pressão.
Para municípios que não tem leitos de UTI, sugerimos acompanhar o percentual de internação em leitos de enfermaria.
Indicador: Tempo médio de internação em UTI
Ações relacionadas:
- Se for abaixo da média significa que as pessoas estão chegando tarde?
- O indicador tem diminuído ao longo do tempo?
- Tem que separar quem vai a óbito ou quem se cura?
Observações e limitações:
- Tempo médio de hospitalização dos casos que acabam precisando de internação em UTI: 20 dias.
- Para casos que precisam de entubação: 15-20 dias.
- Para casos que não precisam de entubação: 7-10 dias
Indicador:
Já é possível perceber padrões de evolução de casos de Covid-19 sem internação quanto para com internação. Assim, internações que se estendem além do esperado para casos graves de Covid-19 podem indicar que o paciente esteja enfrentando outras complicações, concomitantemente. Adicionalmente, a observação deste indicador permite estimar a disponibilidade de leitos em um horizonte curto de tempo em que a demanda por tratamento intensivo se mantenha razoavelmente constante.
Indicador: Tempo médio de espera para internação em UTI
Possíveis fontes de dados:
SisReg
Ações relacionadas:
- Buscar ampliação da oferta de leitos.
- Identificar e resolver potenciais gargalos no sistema de regulação.
Observações e limitações:
- A probabilidade de morte de pacientes Covid-19 que necessitam de internação em UTI dobra a cada dia de espera sem este cuidado, na média
Indicador:
Atentar para o tempo médio de espera entre a solicitação e a disponibilização de leitos de UTI pode ajudar a identificar gargalos burocráticos a serem corrigidos e ajuda as equipes que acompanham a evolução de pacientes internados a adaptar procedimentos de acordo com a situação do ambiente hospitalar, salvando vidas.
Indicador: Taxa de mortalidade de pessoas hospitalizadas
Possíveis fontes de dados:
Ações relacionadas:
- Avaliar a capacidade e quantos pacientes os hospitais estão recebendo
Observações e limitações:
- O comparativo é difícil pois hospitais diferentes absorvem tipos diferentes de casos (e.g., alguns hospitais são referência para casos graves que, por definição, possuem maior mortalidade)
Indicador:
A mortalidade específica de pessoas em tratamento intensivo deve ser acompanhada para avaliar protocolos de tratamento desses quadros. Se possível, municípios devem acompanhar esse número a nível de estabelecimento de saúde e compará-los. A análise por grupos demográficos também trará informações relevantes para orientar outras abordagens de política pública.
Profissionais de saúde
Proteger os profissionais que estão na linha de frente da crise e expostos ao vírus é essencial para garantir os recursos humanos necessários para reagir com agilidade e qualidade a possíveis aumentos no número de casos.
Indicador: Profissionais de saúde afastados por motivos ligados à Covid-19 (%)
Possível indicador chave!
Possíveis fontes de dados:
“Vital”
Ações relacionadas:
- Investir em apoio ao pessoal médico, seja paramentação e protocolos para evitar contaminação ou suporte de saúde mental.
Observações e limitações:
- Importante observar de acordo com departamentos e grupos de risco.
- Atentar se consideraremos pessoas afastadas como um todo ou se descontamos aquelas afastas por precaução (grupos de risco)
Indicador:
Quanto maior o indicador de profissionais afastados, menor será a capacidade do sistema de saúde para responder a aumentos sustentados no número de casos ou a novos surtos da doença. É importante acompanhar se serão considerados “afastados” aqueles profissionais afastados de maneira preventiva (grupos de risco) juntamente com aqueles afastados por contágio. Uma alta taxa de afastamento pode indicar provimento inadequado de ou mesmo falta de EPI, bem como a adoção de protocolos de tratamento que resultam na maior exposição do pessoal médico.
Indicador: Profissionais de saúde testados para Covid-19 (%)
Ações relacionadas:
- Estabelecer um protocolo de testagem;
- Alocar recursos para testagem constante da equipe de saúde.
Observações e limitações:
- Município pode não ter testes.
- Sujeito a limites e atrasos de testagem (ver “Exames realizados por dia” e “Tempo médio de exames”)
Indicador:
A testagem constante e ampla de profissionais de saúde é essencial para aplicação de protocolos adequados de afastamento e monitoramento, sem desfalcar desproporcionalmente a capacidade humana de resposta à crise. Bons protocolos de afastamento requerem alta frequência de testagem na equipe dedicada à resposta à pandemia.
Indicador: Profissionais de saúde infectados por Covid-19 (%)
Possível indicador chave!
Ações relacionadas:
- Intensificar orientação ao isolamento de pessoas com suspeita de Covid e reduzir contato da população;
- Intensificar ações de concientização social para distanciamento social, utilização de máscara em espaço público, e demais medidas profiláticas;
- A depender do estágio da curva, intensificar medidas de rastreamento e monitoramento de contatos.
Observações e limitações:
- Sujeito a limites e atrasos de testagem (ver “Exames realizados por dia” e “Tempo médio de exames”)
- Sujeito a limites na busca por atenção básica ou tratamento (realizar testagem em massa e estruturar unidade de rastreamento e monitoramento. Ver “Subnotificação”)
- Carece de informação sobre aglomeração de pessoas por recorte territorial (ver “Densidade populacional”)
Indicador:
A interpretação de todos os indicadores de situação da doença deve considerar tanto o número total da prevalência de casos quanto sua tendência ao longo do período de referência. Para este exercício, sugerimos reportar a direção de mudança no indicador e há quantos dias essa variação é sustentada. Em geral, indicamos uma postura conservadora: uma piora sustentada por 5 dias já deve indicar a necessidade de ser mais restritivo em suas medidas, enquanto uma melhora dos números precisa manter-se por 14 dias para ser considerado seguro afrouxar medidas.
Rede de saúde
Os impactos negativos da Covid-19 sobre a saúde pública não afetam apenas aqueles diretamente infectados pela doença, mas também resultam nas interrupções de serviços de saúde essenciais e programas de saúde pública. Na epidemia de Ebola na África Ocidental, mais de 11.000 pessoas morreram diretamente do Ebola, mas estima-se que 11.000 a 26.000 mortes adicionais tenham ocorrido apenas por HIV/AIDS, tuberculose, malária e sarampo, devido a interrupções nos tratamentos e na vacinação . Assim, é importante monitorar métricas que não sejam da COVID para entender os efeitos diretos e indiretos na saúde da população.
Indicador: mortes domiciliares
Possíveis fontes de dados:
SIM
Ações relacionadas:
- Alocar recursos para ampliar o acesso aos testes;
- Intensificar a comunicação com a população para que ela procure ajuda médica quando necessário;
- Intensificar ações de concientização social para distanciamento social, utilização de máscara em espaço público, e demais medidas profiláticas.
Observações e limitações:
Excluem-se causas externas (violência, acidentes, etc.)
Indicador:
Este indicador procura jogar luz sobre a quantidade de pessoas que estão morrendo fora do sistema de saúde – incluindo pacientes com ou sem Covid-19 -, seja por falta de capacidade do mesmo de atendê-las ou por questões ligadas ao acesso.
Indicador: Excesso de mortes
Possíveis fontes de dados:
Ações relacionadas:
- Investigar se mortes estão sendo atribuídas à causas gerais e não a Covid-19.
- Investigar se pessoas que morrem em casa não estão sendo testadas para Covid-19.
- Investigar se outras causas de morte estão aumentando por uma sobrecarga do sistema de saúde na resposta à pandemia
Observações e limitações:
Indicador:
O indicador de excesso de mortes mede a quantidade de mortes além do esperado foram registradas. Essas mortes incluem tanto aquelas por Covid-19 – confirmadas ou não – quanto por outras causas que estão sendo impactadas pela pandemia: por exemplo, o contágio tem levado pessoas a evitar irem a hospitais, adiando o acesso ou mesmo interrompendo tratamento para doenças crônicas, por exemplo.
Uma metodologia pensada para a realidade brasileira, a partir das melhores práticas internacionais
A metodologia nasceu a partir de um levantamento de melhores práticas da Vital Strategies, organização global líder em saúde pública, com atuação em mais de 70 países. Os indicadores foram adaptados para a realidade brasileira por uma equipe multidisciplinar, formada por epidemiologistas, especialistas em saúde pública, gestores públicos de saúde e analistas de dados que levaram em conta as particularidades do sistema de saúde nacional e as oportunidades e desafios particulares a ele.