Mistura de vacinas da AstraZeneca e Pfizer aceleraria imunização de grupos prioritários e poderia impactar mais de 16 milhões de pessoas, aponta estudo

Estudos clínicos internacionais começam a confirmar o que alguns especialistas suspeitavam: a eficácia e segurança da aplicação de tipos diferentes de vacinas contra a COVID-19. Estudos conduzidos pela Universidade de Oxford no Reino Unido e pelo Instituto de Salud Carlos III na Espanha indicam que a aplicação heteróloga de vacinas da AstraZeneca e da Pfizer, ou seja, a aplicação da segunda dose da vacina da Pfizer após a aplicação da primeira dose da vacina da AstraZeneca, seria responsável por produzir uma resposta imunológica superior àquela observada com a aplicação de duas doses da AstraZeneca. 

Em razão de sua eficácia, segurança e proteção, países como Portugal, Chile, Alemanha, França, Dinamarca, Suécia, Noruega, Canadá e Coreia do Sul já recomendam a combinação das vacinas da AstraZeneca e Pfizer.

No Brasil, a Anvisa ainda não recomenda a mistura de vacinas. Estudo inédito desenvolvido pela ONG de saúde pública ImpulsoGov aponta, no entanto, que a autorização desta medida rapidamente pode evitar atrasos na vacinação no país, haja vista a perspectiva de oferta de vacinas no país para os próximos meses.

O estudo aponta que, de acordo com dados do Ministério da Saúde,  mais de 180 milhões de doses da Pfizer devem ser disponibilizadas para o Programa Nacional de Imunizações até dezembro deste ano, com uma média de 33 milhões de doses sendo recebidas mensalmente a partir de agosto. Já para as doses da AstraZeneca, a previsão é de que sejam entregues 96 milhões de doses ao PNI até dezembro, metade das doses de Pfizer previstas para o mesmo período. Vale ressaltar que, até o momento, 34,7 milhões de pessoas foram vacinadas com a primeira dose da vacina de Oxford-AstraZeneca e ainda não receberam a segunda dose.

Para Marco Brancher, autor do estudo e coordenador de dados da ONG ImpulsoGov, “mantendo-se o ritmo atual de vacinação da AstraZeneca (1,7 milhões de doses por semana), e considerando a demanda por segunda dose, até o final de setembro precisaríamos de cerca de 55 milhões de doses no total.. No entanto, o cronograma do Ministério da Saúde revela que devemos ter apenas 38,2 milhões de doses desta vacina neste período. Assim, uma possível solução seria o uso de doses da Pfizer como segunda dose da AstraZeneca, para essas 16,8 milhões de pessoas.” Utilizando a mesma estratégia para estimar qual seria a demanda mínima (aplicação de segunda dose) e de demanda por novas doses de Pfizer, concluímos que dada a oferta de doses da Pfizer até o final de setembro (cerca de 84,4 milhões de doses), seria possível acelerar o ritmo de vacinação com doses de Pfizer, aplicar a segunda dose naqueles que foram vacinados com Pfizer e ainda aplicar a segunda dose nos indivíduos que foram vacinados com AstraZeneca, segundo Brancher.

Para João Abreu, diretor-executivo da ONG ImpulsoGov, a eficácia da vacinação é inquestionável, com mais de 100 mil vidas salvas até agora, conforme apontam estudos da organização. No entanto, é preciso manter o ritmo para se conseguir a almejada imunidade coletiva, o que não será possível se houver escassez de doses para a segunda dose. Assim, a possibilidade de aplicação de segunda dose da Pfizer em pessoas que tomaram a primeira dose de AstraZeneca deveria ser liberada por estados e municípios imediatamente. Segundo Abreu, “a medida não apenas pode aumentar o nível de proteção dos indivíduos, tornando mais efetiva a estratégia de imunização coletiva, como ainda nos permite acelerar a imunização completa nos grupos prioritários, que podem acabar perdendo a janela de imunização caso tenhamos um atraso na aplicação da D2 em função da baixa disponibilidade de AstraZeneca”. 

O município do Rio de Janeiro já iniciou a aplicação da segunda dose de Pfizer em grávidas e puérperas que tomaram a primeira dose de AstraZeneca. Segundo o Álvaro Rossi, consultor de saúde do município do Rio de Janeiro, a estratégia visa a permitir a aceleração da imunização em grupos considerados de maior risco. “A vacinação heteróloga nos trará uma maior flexibilidade no calendário, facilitando uma eventual diminuição no tempo entre a primeira e a segunda dose nos próximos meses. Essa mudança seria fundamental para nos aproximar do nosso objetivo de imunizar completa e seguramente a todos”, afirma Rossi.

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